Cavaco completa sexta-feira um ano de mandato em Belém
Cavaco Silva conclui sexta-feira um ano de mandato como Presidente da República durante o qual tentou equilibrar a prometida «cooperação estratégica» e a vigilância ao Governo socialista, entre críticas e elogios dos partidos que o apoiaram nas presidenciais. Ao fim da tarde de 9 de Março de 2006, dia da investidura na Assembleia da República, Cavaco Silva, acompanhado pela família, mulher e filhos, entrou no Palácio de Belém como o primeiro Presidente do centro-direita em Portugal, 32 anos depois da Revolução dos Cravos. Além da subida até ao Pátio dos Bichos, do Palácio de Belém, Cavaco, ex-líder do PSD e primeiro-ministro durante dez anos (1985-1995), tinha também pel a frente o desafio de uma coabitação inédita, com um chefe de Governo socialista, José Sócrates - uma experiência, até agora, sem incidentes. As linhas-mestras dessa «cooperação estratégica» com Sócrates, que em 2005 pusera o PS a governar com maioria absoluta, ficaram vincadas logo no discurso de posse. Cavaco garantiu então uma «cooperação leal e frutuosa» ao executivo, que prometeu acompanhar «com exigência», e apelou a «consensos alargados», que passam pelo crescimento da economia e pela qualificação dos recursos humanos. Empenhado na promoção de uma «estabilidade dinâmica no sistema político democrático», o Presidente deixou, porém, o aviso de que não fará uma leitura passiva dos seus poderes ao afirmar que «estabilidade não é um valor em si». Logo na posse, José Sócrates anotou que o discurso presidencial alinhava com a «agenda política do Governo». Os primeiros dias passam sem surpresas em Belém, mas algumas diferenças surgem logo no primeiro encontro com o chefe do Governo: o Presidente trocou os sofás por uma mesa de trabalho, onde exibe um caderno azul. Os encontros semanais são longos (às vezes por mais de duas horas) e rodeados de total secretismo. É, afinal, o espírito de uma «cooperação silenciosa para o exterior», como já a definiu Cavaco numa entrevista. Discreto no dia-a-dia em Belém, o Presidente volta a surpreender os comentadores na estreia da sessão evocativa do 32º aniversário da Revolução do 25 d e Abril de 1974 com um discurso à esquerda, lançando as bases para as suas «pres idências abertas» - os Roteiros da Inclusão. Frente aos deputados, e sem cravo vermelho, pede um «compromisso cívico alargado» para cumprir um dos desígnios da Revolução - «a aspiração de maior justiça social». Dias depois, arranca, em Alcoutim, no Algarve, com o seu primeiro Roteiro da Inclusão, dedicado às regiões periféricas, à exclusão e ao envelhecimento, que o levou às terras do interior do Alentejo e da Beira Baixa. Sem causar grandes beliscadelas ao Governo, faz também um roteiro centrado em Lisboa e evita fazer comparações com a presidência aberta do ex-Presidente Mário Soares que, nos anos 90, expusera os problemas de pobreza na região da c apital quando Cavaco Silva era primeiro-ministro. Passados 13 anos, Cavaco insiste que é a favor de uma «cooperação frutuosa», sublinhando que é Presidente para «resolver problemas» e não para «criar problemas a ninguém». «Não tenho nenhuma vocação para força de bloqueio. Acho que os portugueses não esperam isso de um Presidente da República», afirmou o ex-líder do PSD, que chegou a apelidar o antigo Presidente Mário Soares de «força de bloqueio» nos tempos de coabitação difícil. Mas nem tudo são rosas nas relações entre Belém e São Bento - o primeiro e, até agora único, veto político foi à Lei da Paridade, uma bandeira de campanha dos socialistas, a 02 de Junho de 2006. Cavaco Silva «devolve» o diploma ao Parlamento por considerar excessiva a punição de excluir das eleições as listas que não tenham a quota estipulada de mulheres, o PS conforma-se e altera a lei. O Verão é de acalmia e o Outono é que traz alguma agitação, logo com os partidos que no início do ano tinham dado o apoio à candidatura de Cavaco Silva a Belém - PSD e CDS-PP. Em entrevista à SIC, em Novembro, o elogio ao «espírito reformista» do Governo de José Sócrates é recebido com silêncio e críticas mais ou menos veladas pelo PSD de Marques Mendes que, de visita ao Brasil, critica as políticas enaltecidas pelo Presidente no outro lado do Atlântico, em Lisboa. Se um vice-presidente da bancada do PSD, Agostinho Branquinho, chega a dizer que Cavaco «foi longe de mais nas loas ao Governo», no CDS-PP os críticos do líder atacam a excessiva colagem de Ribeiro e Castro ao discurso presidencial . E foi preciso esperar pelo primeiro dia do ano de 2007 para voltar ouvir os elogios do PSD e do CDS-PP ao Presidente. Cavaco Silva, que prometera acompanhar o Governo com «exigência», numa espécie de vigilância, traça o rumo e exige «resultados» ao Governo socialista de Sócrates na economia, educação e justiça. Apesar dos avisos, no PS já há quem, como o líder da concelhia de Lisboa, Miguel Coelho, admita algo que, durante a campanha presidencial que ditou a d errota de Mário Soares, fundador do partido e ex-Presidente, seria impensável: o apoio à recandidatura de Cavaco Silva em 2011. A confirmar-se o cenário dentro de quatro anos, a História repetir-se-ia, mas ao contrário. Em 1991, Cavaco Silva, então primeiro-ministro e líder do PSD, preferiu não lançar uma candidatura e apoiou a recandidatura presidencial do socialista Mário Soares. Diário Digital / Lusa 08-03-2007 9:00:00 ... bastante stressante, mesmo com muitos passeios, recreios, devaneios... sorrisinhos de treta, palmadinhas nas costas, algumas propostas, circuitos pelo País... aos que apelida de roteiros!!!... Com algumas medalhas, palavreados raros, indultos... também!!!... Enfim!!!... Sherpas!!!... ![]() |