… de lés… a lés!!!...
... cinzento carregado, quase escuro, o dia
que prometia,
pelo descanso, mais sossegado,
da semana, o mais desejado,
para quem trabalha,
quase igual para um reformado
estremunhado,
claridade que o alerta,
abre a janela
que o desperta,
corre a persiana, encontra a rua,
quase vazia, sem gente, tão nua,
depara com verde dos contentores,
mesmo de frente,
saco indiferente,
cor indefinida, repleto de roupa,
de quem tem muita, deita fora,
não poupa,
ali, no chão, ali à mão,
e... passa gente,
pé ante pé, como quem sente,
saco de vida, quase vazia,
manhã tão fria,
numa cor preta carregada,
emigrante desempregado,
descendente talvez,
primeira, segunda geração,
mais um irmão,
assim se fez,
já naturalizado,
desocupado,
falho de algo, de muita coisa,
sem obra, tarefa que não tem,
ainda se mantém,
aproximando do seu sustento,
desgraça que busca,
não luta, não barafusta,
intento na sobra,
porque não cobra,
ganhos tão parcos,
bastantes mais, desideratos,
insustentável situação,
humilhação,
num giro, numa pedincha, numa oração,
encontro fortuito,
conformado, sem grito,
sem raiva, sem esmola,
olhando a preceito,
revolvendo conteúdo, com saco na mão,
compras, em vão, noutra ocasião,
dando-lhe o jeito,
experimentando, por cima do que tinha vestido,
calças, blusas, sapatos,
uma perfeição,
acondicionando, satisfeito,
sem satisfação,
degradante situação,
agarrando saco de fatiota,
ali à porta,
mesmo de frente,
coisinha pouca, amostra de gente,
virou recipiente verde,
naquela manhã cinzenta carregada,
tão sem nada,
tão sem nada,
indo ao fundo, tirando,
fazendo uma espécie de compras sem dinheiro,
que impressão,
desprometeu o dia que... parecia,
num domingo sem gente, ali em frente,
num contentor,
saca vazia, pouca gente,
buscando nas sobras,
trabalhador das obras,
roupas, alimentos,
tão normal neste País que não sente,
esta atitude, esta gente,
inusual, inconformado,
abismal, desajustado,
lágrima me vem,
humilhado também,
ainda ontem, no para lamento,
do alto do seu convencimento,
assoberbado por palavras dum Presidente
que se não sentia em PECADO,
dizia que não, economia um “must”
quanta discussão,
quanta vergonha no momento,
por palavras "avulsas" da oposição,
recalcitrante me sinto,
não minto,
tal como alto dignitário arrependido,
entristecido,
hipócrita situação de quem não sente,
quanta e quanta gente,
cantinas sociais, banco alimentar,
caridade de espantar,
um viandar por cantos e recantos, fundos tão fundos,
recipientes dos excedentes,
tão verdes, escuros, sombrios, sacos de cor indefinida,
fazendo pela vida,
romarias sem festa,
compenetrados, tão mudos,
sisudos até,
ali ao pé,
na rua que é minha, que é tua,
nas sobras que encontram, ajustam, vestem,
levam para casa, comem,
dão de comer,
indiferentes... podem crer!!!... Sherpas!!!...